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Conflito Israel-Líbano 2006

por blogdobesnos, em 27.03.12

PRIMEIRO RELATO


Houve uma grande enchente, e os animais corriam risco de vida. Um cavalo, observando que as águas cada vez subiam mais, ofereceu carona para um escorpião. Este aceitou e subiu ao lombo do cavalo, que jogou-se nas águas e, lentamente, começou a nadar contra a correnteza. O esforço era grande. Quando faltavam poucos metros para alcançarem a margem, o escorpião picou o cavalo que, antes de morrer, perguntou:

 

- Escorpião, por que fizestes isso? Nós dois vamos morrer desse jeito!


- Porque sou um escorpião do oriente médio…

 

 

SEGUNDO RELATO


O mais complicado no Oriente Médio não é fazer a guerra, promover o massacre de inocentes, de civis, explodir rotas, destruir hospitais, fazer o sangue correr. O mais difícil no Oriente Médio não é recordar os atos de terrorismo, reciclando o ódio, relembrar os ônibus explodindo, as crianças morrendo, os jovens ficando aleijados para o resto de suas vidas, famílias perdendo maridos, esposas, filhos…

 

O mais improvável não é gritar e berrar pedindo a morte da nação vizinha, queimar suas bandeiras, mandar mensagens através da mídia internacional, organizar terrorismo de estado ou terrorismo de grupos específicos. O mais delicado no Oriente Médio não é deliberar pelo sangue ou pela execução de quem está ao lado, ao alcance de uma fronteira. Também é fácil argumentar de um lado ou de outro, procurar a vitimização própria como justificação para a agressão vindoura.

 

O mais complicado no Oriente Médio é os mandatários decidirem não mais dar dinheiro para os que promovem a morte, é não alimentarem os ódios ancestrais entre nações. O mais complicado é terem a capacidade de se colocar no local daquele que terá seus filhos mortos, seus órfãos, entenderem que são de seu povo as desgraças, as fomes, as angústias, as perdas, as tristezas, e que os discursos são do Estado ou dos grupos terroristas de todas as cores. O mais difícil é os mandatários não se renderem ao ódio, à intolerância, à arrogância, ao ego inflado, aos compromissos e alianças políticas que movimentam os elos da discórdia, do terrorismo. Enquanto a idéia de morte, de discórdia permanecer, as guerras e as estupidezas vão preponderar, e a Terra Santa será a Terra do Corpo Santo, onde nascerão as flores regadas com o sangue de homens, mulheres, crianças.

 

O sangue, esse não importa de quem será derramado: se de católicos, cristãos, judeus, islamitas, fanáticos ou pacifistas: sempre será sangue, semplre será vida que vai se esvair. O sangue, o sangue, o sangue, o sangue das crianças vai acompanhar sempre o ódio, vai habitar a alma dos que irão morrer pela terra, pelo orgulho, pelos valores. O sangue dos mortos vai regar suas covas de iniquidades. A paz dos cemitérios. A paz da morte. A paz do sangue.

 


TERCEIRO RELATO

 

Como uma das conseqüências dessa malfadada guerra entre Israel e Líbano, muitos brasileiros com origem libanesesa e muitos outros que estavam visitando ou trabalhando no país estão retornando ao Brasil.


A midia brasileira tem entrevistado algumas dessas pessoas, muitas que já têm suas vidas estabelecidas em Beirute ou em outras cidades libanesas, e perguntado sobre seus sonhos, sobre suas intenções de retornar ou não ao Líbano. As respostas são variadas; muitos deixaram seus parentes, seus bens materiais, seus amigos, enfim, sua vida, e nada mais justo que pensem em retornar. Dependesse de minha opinião eu diria: não voltem, fiquem no Brasil.


Esse é um país que vai acolhê-los muito bem, porque é um país multiracial. Embora tenhamos, claro, alguns problemas mais ou menos ocultos de racismo, conforme se pode ver com os problemas das cotas étnicas nas universidades, não passa muito disso. Aqui vocês não serão desprezados ou exaltados por serem muçulmanos. Serão muçulmanos, e freqüentarão suas mesquitas do mesmo modo que os judeus freqüentam suas sinagogas, que os luteranos, os católicos, os umbandistas, os budistas, os espíritas, os de magia negra ou branca, os wicca e outros grupos religiosos e étnicos que mantém diuturnamente sua fé.


Aqui vocês vão se espantar um pouco, mas logo ficará muito claro que, embora sejamos um país de contrastes, vocês vão sentar e vão conversar e vão comer e vão andar de ônibus junto com italianos, japoneses, negros, amarelos e pardos de todas as tonalidades, com alemães de olhos azuis misturados com asiáticos, sem esquecermos, claro, os poloneses, os africanos, os franceses, os lituaneses e assim por diante. Todos se cruzam pelas ruas afora, todos buscam paz, uma vida mais digna e mais calma.


Fiquem, vocês vão descobrir um país onde há roubos, furtos, assassinatos, e toda a miséria humana misturada com locais maravilhosos, com obras fantásticas em qualquer ramo da inteligência e da criatividade humana que se possa imaginar.


Vocês, se ficarem aqui, vão descobrir o cheiro das frutas, o valor de um jogo de futebol de um por do sol, do som do violão, e, enfim, se ficarem mais um pouco também vão entender o que significa viver em um mundo onde basicamente há um todo a ser explorado, a ser descoberto, a ser (re)inventado, e onde o pior que existe são os abismos sociais em termos de dinheiro e de acesso a bens culturais. Fora isso, a pior desgraça desse país continua sendo a subserviência, a arrogância juvenil e a corrupção.

 

De todo modo, infinitamente melhor do que a probabilidade de um míssil explodindo há alguns metros de distância. Fiquem com o Brasil.

 

 

QUARTO RELATO


Está bem, eu praticamente me mantive quietinho a respeito da Guerra Israel-Líbano. Sou judeu, e meus pais me ensinaram a dar mais significado aos livros, a vida, as pessoas, ao convívio e por aí adiante. É a herança que me deixaram e é o que busco também ensinar para os meus filhos, não por uma questão de tradição, mas porque acredito em tal modo de viver a vida. Creio, sinceramente, que qualquer pai ou mãe deva ensinar assim aos seus filhos, seja muçulmano, budista, cristão, católico apostólico romano, umbandista. Viver e conviver em harmonia. Ser feliz nesse planeta. Por outro lado, distribuir o ódio é disseminar tudo que ele traz: violência, estupidez, morticínio, fanatismo, liquidação do outro. É conspurcar o planeta, é viver com as mãos enxarcadas de sangue alheio.


É absolutamente possível que eu não seja nem de longe a pessoa indicada para falar a respeito dos conflitos no Oriente Médio. No entanto, diz a minha consciência que eu devo falar sobre o assunto. Então vamos lá.

 

 

1

 

 

Religiosidade é transcender a experiência comum, é buscar um contato com o divino, seja ele quem for. Embora não seja um amplo conhecedor da Torah, do Novo Testamento ou do Alcorão, tenho uma humana certeza de que nenhum desses documentos defina a guerra, o morticínio e a liquidação étnica como uma prática a ser seguida ou como uma forma de se resolver quaisquer tipos de problemas. Partindo daí, dentro da minha concepção, os termos Guerra Santa, Guerra Étnica e outros baseados em ideologia religiosa são apenas os reducionismos políticos utilizados por sociopatas que ascenderam ao poder e que necessitam de tais argumentos para justificar suas próprias barbáries.

 

Desde o sangue derramado pelos cristãos nas arenas romanas até o sangue vertido por muçulmanos e judeus, passando pelas barbáries diuturnamente cometidas na África, todas as estupidezas estão apostas dentro de um padrão de pensamento que passa pelo nacionalismo exacerbado, pelo militarismo financiado, pelos donos das armas e por quem detenha poder suficiente para exacerbar a ignorância, minar os valores éticos e conduzir os insanos como gado ao matadouro.

 

Independente de nossas opiniões, o ódio tem suas praças certas no mundo, seus endereços preferenciais.Suas garras, conforme se vê, são alimentadas de modo espetacular, até onde possa alcançar a sociopatia do poder e a obscenidade da violência, estimuladas pelaganância do lucro e pela ignorância meticulosamentearticulada do fanatismo, ideologia justificativa para mortes e crises artificais plantadas para a obtençãode vantagens e benesses de poucos.

 

 

2

A partir do momento em que Israel decide pela guerra total, utilizando helicópteros,mísseis, bombardeios, invasões terrestres e aviões,promovendo mais de seiscentas mortes em suasintervenções militares – até hoje! – está montando um cenário cujas conseqüências me parecem ser:

 

a) uma demonstração de que algo ocorre com o Mossad, e o que ocorre não é bom.

 

O Mossad é o serviço de inteligência de Israel, até então considerado um modelo de excelência, bastando para tanto lembrarmos sua atuação em Entebbe, nasolimpíadas de Munique, Alemanha, nas precisões de suas localizações das forças adversárias nas guerras nas quais se envolveu Israel desde a sua fundação. Em tais oportunidades, Israel soube muito bem capitalizar a simpatia do mundo ocidental. Agora, na atual guerra Israel-Líbano, me parece razoavelmente claro que, ou o Mossad não foi consultado, ou as suas decisões tem um peso político menor do que deveriam. Assim como em Washington há igualmente falcões no Knesset (parlamento de Israel).

 

b) a associação do estado judeu a um status de transgressor internacional e de desrespeito aos direitos humanos fundamentais.

Houve aqui uma involução na imagem de Israel. A midia mundial e as populações da Europa e dos Estados Unidospassam a associar a beligerância e a intransigênciacomo uma característica do estado judeu. As mesmas convivem precariamente com o estado democrático semeado por Israel na região.

 

A melhor imagem de Israel passou a denegrir-se especialmente a partir das posições radicais de Ariel Sharon, enquanto primeiro-ministro. O mundo não vai esquecer, por exemplo, Arafat preso em uma igreja cristã, cercado pelo exército de Israel. A partir de tais situações, houve uma fragmentação da imagem democrática do estado judeu.Mesmo no final de seu mandato, quando Sharon aceitou a Autoridade Palestina e retirou à força seus compatriotas mais fundamentalistas de áreas ocupadas, os prejuízos a imagem mundial de Israel já contabilizavam suas perdas.

 

c) O anti-semitismo deve recrudescer.

 

As forças que se orientam no sentido da destruição não apenas do Estado judeu mas também no ódio étnico devem ser fomentadas pela guerra atual entre Israel e o Líbano. Até porque a mesma significará o amalgamento dos países da região contra Israel. Por outro lado, se o discurso meramente retórico for insuficiente, os recursos midiáticos se encarregarão de inundar o mundo com fotografias e relatos do que as pessoas comuns passam e sofrem durante uma guerra, o que é absolutamente normal e esperado. Os fundamentalismos se fortalecerão cimentando ainda mais a continuidade do ódio e do desprezo pelos valores e pela vida judaica.Esses são alguns aspectos que me induzem a pensar em quão errada é a estratégia empregada pelo estado de Israel em continuar com essa estupideza. Sou contra a guerra, sou contra o terrorismo, e sei da glamurização que uma imagem carrega ou do desprezo que ela provoca.

 

Embora Israel entenda ter as suas relevantes razões (assim como o Hezbolah), o mundo não quer saber de razões nem de nada que conduza à mais morticínios.

 

O mundo, como – quase – todos nós, quer paz!

 

 

QUINTO RELATO


O governo de Israel anunciou que esse INFERNO vai terminar segunda-feira. O Hezbollah aceitou que esse INFERNO termine segunda feira. O Líbano não aceitou ainda a proposta para esse INFERNO terminar na segunda-feira.

 

Isso enquanto eu estava postando, e o Líbanos já tinha para contabilizar mais de mil mortos, Israel uns 150 e parece que uns 200 militantes do Hezbollah também morreram. Ah, sim, logicamente, enquanto não chega segunda-feira, continuam os ataques com mísseis, bombardeios, et caterva.


No comments.

 

PS: A guerra não terminou segunda-feira

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